segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga


Cartas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em versos decassílabos e brancos, com uma metrificação parecida com a da epopéia, e circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um tom satírico.

É uma obra satírica, constituindo poema truncado e inacabado (13 cartas), na qual um morador de Vila Rica ataca a corrupção do Governador Luís da Cunha Menezes. Aponta as irregularidades de seu governo, configurando o ambiente de Vila Rica ao tempo da preparação política da Inconfidência Mineira. Em julho deste ano de 1878, Cunha Menezes deixaria o governo de Minas, em favor do Visconde de Barbacena.

Onde se deveria ler Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas e Vila Rica, lê-se Espanha, Madrid, Salamanca, Chile e Santiago. Os nomes aparecem quase sempre deformados: Menezes é Minésio. Há apelidos e topônimos inalterados, como: Macedo, a ermida do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a igreja do Pilar. O autor se dá o nome de Critilo e chama o destinatário de Doroteu. Finalmente, os fatos aludidos são facilmente identificados pelos leitores contemporâneos.

A matéria é toda referente à tirania e ao abuso de poder do Governador Fanfarrão Minésio, versando a sua falta de decoro, venalidade, prepotência e, sobretudo, desrespeito à lei. Afirmam alguns que o poema circulava largamente em Vila Rica em cópias manuscritas.

Critilo (Tomás Antônio Gonzaga) aplica-se de tal modo na sátira, que a beleza mal o preocupa. Os versos brancos concentram-se no ataque. Sente-se um poeta capaz de escrever no tom familiar que caracteriza o realismo dos neoclássicos, com certa inclinação para a pintura da vida doméstica.

Para Critilo, o arbitrário Governador constituía, de certo modo, atentado ao equilíbrio natural da sociedade.

Entretanto, não se nota nas Cartas nenhuma rebeldia contra os alicerces do sistema colonial, nem mesmo uma revolta contra o colonizador; apenas se critica a má administração do governador Cunha Menezes. Seu significado político, todavia, permanece. Literariamente, é a obra satírica mais importante do século XVIII brasileiro e continua sendo o índice de uma época.

Sendo anônimo o poema e tendo permanecido inédito até 1845, houve dúvida quanto à sua autoria, embora a tradição mais antiga apontasse Gonzaga sem hesitação. Falou-se depois em Cláudio, em Alvarenga Peixoto, em colaboração etc. Estudos empreendidos neste século, culminando pelos de Rodrigues Lapa, vieram dar prati­camente a certeza da atribuição a Gonzaga.

É tida como uma das mais curiosas sátiras de todos os tempos em Literatura Brasileira (junto com Antônio Chimango). Quem assina essas cartas é um certo Critilo, que escreve a um amigo, Doroteu. O contexto também era diverso, já que o clima de opressão e a tensão política deveriam se asilar no apócrifo.

As Cartas têm em Cunha Menezes (no texto, batizado com o singelo nome de Fanfarrão Minésio) o seu protagonista. Além do viés satírico, a obra constitui um interessante quadro dos costumes daquela época e um registro precioso do que era a corrupção no Brasil já desde os tempos da Colônia. Critilo, por sua vez, escreve do Chile.

Carta 1ª (fragmentos)

Não cuides, Doroteu, que vou contar-te

por verdadeira história uma novela

da classe das patranhas, que nos contam

verbosos navegantes, que já deram

ao globo deste mundo volta inteira.

Uma velha madrasta me persiga,

uma mulher zelosa me atormente

e tenha um bando de gatunos filhos,

que um chavo não me deixem, se este chefe

não fez ainda mais do que eu refiro.

................................................................................

Tem pesado semblante, a cor é baça,

o corpo de estatura um tanto esbelta,

feições compridas e olhadura feia;

tem grossas sobrancelhas, testa curta,

nariz direito e grande, fala pouco

em rouco, baixo som de mau falsete;

sem ser velho, já tem cabelo ruço,

e cobre este defeito e fria calva

à força de polvilho que lhe deita.

Ainda me parece que o estou vendo

no gordo rocinante escarranchado,

as longas calças pelo embigo atadas,

amarelo colete, e sobre tudo

vestida uma vermelha e justa farda.


Danielle Vieira 1° 15

2 comentários:

  1. Nascido no Porto, de pai brasileiro e mãe portuguesa, estudou na Bahia e formou-se em Coimbra.jurista, em 1782 era designado Ouvidor de Vila Rica. Envolvido no processo da Incofidência,é preso em 1789. Em 1792, é exilado em Moçambique. Morre na África, provavelmente em 1810. Embora tenha escrito alguns poemas antes da estada em Vila Rica e apesar de só atualmente estarem sendo descobertas obras suas escritas em Moçambique, foi durante o período vivido em Minas Gerais que Gonzaga produziu alguns dos mais significativos poemas do Arcadismo luso-brasileiro.
    *Cartas Chilenas-Gonzaga travou séria disputa política com o governador de Vila Rica, Luís da Cunha Menezes, destilando contra ele toda sua ira nas Cartas Chilenas. Esse conjunto de poemas satíricos circulou por Vila Rica em manuscritos anônimos assinados por Critilo e dirigidos a Doroteu, Contendo críticas ao Fanfarrão Minésio (Menezes).
    *Marília de Dirceu- Apaixonado pela jovem Maria Joaquina Doroteia de Seixas, Gonzaga dedicou-lhe os poemas líricos em que se retarta como Dirceu e a amada Marília.
    Os poemas iniciais de Marília de Dirceu apresentam o modelo acabado do equilíbrio neoclássico. Já a segunda parte da obra, escrita durante os três anos (1789-1792) em que esteve preso no Rio de Janeiro, aguardando seu julgamento no processo da Inconfidência, revela um eu-lírico sombrio. Dirceu,preso,já não se contém no Neoclassicimo, apresentando-se pré-romântico.

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  2. a postagem está ótima tudo muito bem explicado

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